O brilhantismo das “melhores cabeças do mercado” está sob xeque?
Arthurito: Resumo da Semana
Não procure a agulha no palheiro. Simplesmente compre o palheiro!
-John C. Bogle
Fala velhotes,
Nos últimos anos os gestores de recursos viveram um boom midiático, seja pela presença constante em podcasts ou pelas cartas mensais cada vez mais criativas e bem escritas. Em tempo, são conteúdos de primeira qualidade, e é inegável a inteligência dessa turma, mas se olharmos o desempenho dos fundos no mesmo período a situação não parece tão boa.
Os multimercados amargaram resgates da ordem de R$ 650 bilhões entre janeiro de 2022 e março de 2025. Esse valor equivale a uma perda de 40% do total investido na categoria em dezembro de 2021, um baque profundo para produtos tradicionalmente vistos como sofisticados. Só nos últimos 12 meses são R$ 358 bilhões:
Para efeito comparativo, a boa e velha caderneta de poupança perdeu R$ 250 bilhões de depósitos no mesmo intervalo — cerca de 25% do volume investido no final de 2021. Ou seja, ainda que ambos tenham perdido relevância, em termos absolutos e proporcionais o impacto sobre os fundos multimercado foi mais dramático – mesmo com um batalhão de agentes autônomos vendendo esses fundos e criticando (com razão) a poupança.
Mas por que os investidores estão deixando os fundos multimercado?
Vejo dois fatores principais:
Selic alta, que desencoraja a tomada de risco, e o desempenho aquém do esperado. O IHFA, índice de referência monitorado pela Anbima, registrou uma valorização de 32% no período analisado.
Ao mesmo tempo, o implacável CDI — parâmetro básico da renda fixa — entregou uma alta de 45%. Mesmo a poupança, com retornos de 27%, conseguiu ser competitiva, ainda mais quando se considerarmos a isenção de imposto de renda.
Quando olhamos o retorno ajustado ao risco, a situação é ainda mais desconfortável para os multimercados.
Outra coisa que pesa contra são os custos.
As taxas de administração, costumeiramente próximas de 2% ao ano, e as taxas de performance de 20% sobre ganhos acima do CDI, comprometem ainda mais a competitividade desses produtos.
Nada é tão ruim que não possa piorar:
O avanço das estratégias passivas e dos ETFs pressionam ainda mais esse cenário complicado.
Enquanto os multimercados perdem tração, cresce o interesse por alternativas de gestão passiva, em especial os ETFs (fundos de índices).
Dados da B3 mostram que, apenas em 2023, os ETFs brasileiros registraram captação líquida de mais de R$ 20 bilhões — um crescimento expressivo ante os anos anteriores
Lá fora, o movimento segue ainda mais consolidado. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo o relatório Guide to the Market ETF do JPMorgan, os ETFs já movimentam cerca de US$ 15 trilhões em ativos sob gestão, superando, em 2025, o patrimônio líquido de fundos de ações geridos de forma ativa.
Segundo levantamento da Bloomberg, intermediários vêm migrando cada vez mais para estratégias indexadas, atraídos pela combinação de taxas baixas, transparência e facilidade de diversificação global – é o verdadeiro feliz no simples
No Brasil, até mesmo investidores institucionais vêm ampliando posições em ETFs, sobretudo à medida que crescem as opções disponíveis — incluindo índices internacionais, setoriais e de renda fixa. Essa ascensão reflete uma nova cultura de investimento, na qual simplicidade, baixo custo e clareza se tornam cada vez mais valorizados frente à promessa, muitas vezes não realizada, de retornos acima de benchmarks tradicionais.
A Inteligência Financeira criou um guia dos ETFs no Brasil (link)
Conteúdo gratuito e que ajuda o investidor que ainda não conhece dar os primeiros passos nessa classe de ativos. Vale a pena conferir!
O cenário atual aponta para uma mudança estrutural no comportamento do investidor brasileiro e a pergunta que fica é:
Como toda a indústria de fundos vai se reinventar?
Adoraria ver essa pergunta em um episódio do Stock Pickers ou Market Makers, por exemplo.
Indicação de Conteúdo
Trends in Emerging Markets / Master in Business.
Podcast com Martin Escobari, Co presidente da General Atlantic, sobre oportunidades de investimentos em países emergentes, na esteira da rotação de portfolios que tem saído de US e migrado para Asia e Latam.
O Futuro dos ETFs no Brasil
Episódio do podcast Itaú Views que comenta potencial de crescimento da indústria de ETFs e suas principais vantagens.
Livro: O Investidor de Bom Senso (John C. Bogle)
Se existe alguém que merece uma estátua no mercado financeiro, este alguém é John Bogle. Um dos maiores disseminadores dos ETFs, ele fez o maior programa de doação de custos da indústria financeira, para os próprios clientes, da historia. Um clássico!
Era isso por hoje… se gostou, compartilhe com seus amigos nas redes sociais, tchado?!
Abraço e até a próxima quarta!
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